Em geral pode-se falar de dois tipos de memória: “de longo prazo” e “de curto prazo”. A primeira é essencialmente um armazém de informações, lembranças e histórias, ao passo que a segunda é comumente chamada de “memória de trabalho”. O motivo de ela ser assim chamada é porque as operações mentais que realizamos, nós realizamos por meio dela.
Se sou criativo, se recebo um influxo de inspiração, então por alguns momentos eu “seguro uma ideia” na minha cabeça, sob a minha atenção. É a memória de trabalho que permite que façamos isso. Se eu tenho que fazer um cálculo matemático, eu tenho que “segurar na mente” os números, as operações e os diferentes estágios por quais os números passam até chegar ao resultado final (“subtrai 9 de 6, pega 1 emprestado do 2…”).
A questão é que a informação passa pela nossa consciência e ela precisa ser retida, manipulada, trabalhada de alguma forma. Pode ser que essa informação venha da memória de longo prazo, pode ser que seja algo que esteja imediatamente diante dos nossos olhos – de qualquer modo é necessário sustentá-la. Isso se faz na memória de trabalho.
Se eu tenho que ficar lembrando das coisas que eu tenho que fazer, estou recorrentemente ocupando com elas a minha memória de trabalho. Porém, essa memória é a mesma que usamos para ser criativos, para resolver problemas, para dar cabo nos nossos trabalhos. A memória de trabalho serve para trabalhar, e por “trabalhar” leia-se “realizar operações”, sejam elas de fato remuneradas ou apenas genericamente criativas ou industriosas. Se ocupamos a nossa memória de curto prazo com a tarefa de ter que lembrar, estamos fazendo dois trabalhos com ela: o trabalho de ter que lembrar da tarefa, e o processamento cognitivo associado à tarefa propriamente dita.
Isso não é sustentável. A memória de trabalho não serve “para lembrar”, mas sim para nos ajudar a realizar nossas tarefas, enquanto as realizamos. A melhor forma de utilizá-la é de maneira criativa, e não paranoica (“será que estou esquecendo de algo?”).
Porém, é comum que operemos nesse estado. Delegamos a tarefa de lembrar das tarefas para a nossa memória, e assim ficamos tensos, sobrecarregados, tendo que malabarizar nossos afazeres com a dúvida de assegurar que lembramos de todos eles. É possível proceder de forma diferente. Com o uso da cognição distribuída nós podemos aliviar o fardo da nossa memória e utilizá-la apenas para o que ela serve de melhor: criar, resolver, analisar, debater, pensar, refletir, duvidar, criticar… e assim por diante. Não precisaremos nos preocupar se estamos “nos esquecendo de algo”.