Diferente do que um discurso irrefletido poderia afirmar, a procrastinação não se reduz à preguiça. Dificilmente os motivos pelos quais uma pessoa vai postergar uma tarefa poderão ser atribuídos a “corpo mole”. Mais frequentemente, ela ocorre por questões relacionadas à motivação, falta de energia ou ansiedade. Não raro, isso tudo pode se misturar. É necessário considerar, entre outras coisas, as características intrínsecas à tarefa em questão.
Características da tarefa
Quando eu digo que a procrastinação está associada a questões relacionadas à motivação, não quero com isso dizer que é mera questão de estar “motivado” ou “desmotivado”, e que a pessoa precisa, bem, se motivar. No lugar disso, é necessário discernir que tipo de motivação está atrelada à tarefa:
- Motivação intrínseca: você quer fazer a tarefa porque ela soa legitimamente interessante para você;
- Motivação extrínseca: você precisa ou deve realizar a tarefa, seja porque você está sendo pago, obrigado, ou porque há um benefício que você pode colher, ou um mal que você pode evitar, ao realizar a tarefa, independentemente do fato de ela te soar interessante ou não.
Naturalmente, nós tendemos a gravitar em direção às tarefas motivação intrínseca com mais facilidade. Entretanto, há outras coisas a considerar. A tarefa é difícil demais? Fácil demais? Se ela for difícil demais, eu posso sentir ansiedade e insegurança diante dela, o que pode me fazer querer evitá-la. Se ela for fácil demais, ela pode soar chata e desinteressante, e do mesmo modo eu posso querer evitá-la.
Essas são apenas algumas das variáveis que nos fazem procrastinar. Podem haver questões ambientais (o contexto da tarefa causa desânimo), interpessoais (querem que eu faça isso, mas eu vou fazer é no meu tempo) ou intrapessoais (se eu deixar isso pra depois, eu posso ter algum senso de controle/posso abrir mão do controle um pouco).
Outras considerações
É interessante que nos indaguemos qual é o lugar da tarefa em questão nas nossas vidas. Pode ser que nós a estejamos fazendo por obrigação, ou pode ser que nós tenhamos nos envolvido nela de forma impulsiva. O que fazer isso vai acarretar para o meu futuro? O que deixar de fazer isso vai trazer para mim? Às vezes, nós procrastinamos até mesmo como um mecanismo de defesa.
Há também aqueles que gostam do perigo de ter que fazer as coisas próximo do prazo. Algumas pessoas podem sentir prazer na tensão e na adrenalina que é se empenhar para realizar uma atividade me um período de tempo curtíssimo, com o mínimo intervalo para erros e correções. Isso pode até ser bom – o problema é se isso sai do controle: quando não conseguimos ter a liberdade de escolher quando vamos agir desse modo, de forma que isso se torna um padrão repetitivo e involuntário.