Definir “cognição” é difícil, mas podemos falar que o cognitivo é aquilo que remete à memória, à lembrança ativa, ao ato de calcular, analisar um problema, pensar criticamente, discriminar entre objetos – enfim, a resgatar e analisar informação. Todas as operações mentais conscientes que fazemos estão sob a alçada do “cognitivo”. Há também os processos inconscientes, como há certo diálogo entre estes e os conscientes, mas não abordaremos isso aqui.

Se isso é “cognição”, o que seria então “cognição distribuída”? É simples: usar objetos ao nosso redor para nos ajudar a pensar, a lembrar, a raciocinar. Um computador é o artefato cognitivo maior – e tanto esse é o caso que antigamente havia a profissão de “computador”, em que, geralmente mulheres treinadas em matemática, trabalhavam como “computadores humanos”. A função do computador é nos ajudar com a raciocinar; a ele delegamos inclusive certas tarefas que seriam muito trabalhosas de fazer à mão.

Mas não é apenas o computador que nos ajuda com os nossos processos mentais. O uso de coisas no nosso ambiente para um apoio para o pensamento é algo talvez mais velho do que a escrita. Pense no presidiário que faz riscos com um giz na parede para contar os dias, ou o pecuarista que com um graveto risca o chão para contar o gado. Seríamos capazes de avançar a matemática ao ponto em que ela se encontra sem termos empregado o papel e a tinta como apoio para os nossos cálculos?

Uma ilustração disso: já tentou falar algo em que você pensava para, depois de abrir a boca, perceber que as coisas não saem tão fluidamente como estavam na sua cabeça? Ao falar, você percebe que no seu raciocínio há inúmeros furos, coisas faltando, pressupostos ignorados, e assim por diante. Uma fenômeno muito peculiar (e muito comum) que a psicoterapia nos trás é que às vezes falar é o suficiente. Imagine só: você tem uma série de pensamentos pouco desenvolvidos, posturas filosóficas, ressentimentos, planos, na sua cabeça, e ao falar você consegue colocá-los sob uma análise que antes não conseguia, simplesmente por nunca tê-los dado voz anteriormente. Para muitos pacientes, às vezes o terapeuta não precisa fazer nada: só de ouvi-lo e deixá-lo (e talvez convidá-lo a) falar, ele já percebe os furos e saltos interpretativos em seu raciocínio e isso basta para o seu tratamento.

Da mesma forma que a fala nos ajuda a elaborar, desembaraçar e desenvolver os nossos pensamentos e afetos, a escrita – o lápis o papel, o computador, o celular – serve como apoio para o nosso raciocínio. Essas coisas são artefatos cognitivos e viabilizam a cognição distribuída. Até mesmo processamento das emoções pode ser auxiliado por tais artefatos.

Assim, para superar a procrastinação e melhor gerenciar o nosso tempo, podemos utilizar múltiplos objetos auxiliares (“artefatos”), delegando para eles o papel de lembrar da mesma forma que delegamos para o computador certas operações lógicas. Tradicionalmente, pensa-se na agenda como uma ferramenta que serve para esse propósito, mas qualquer coisa em que se pode escrever serve. Depende do seu gosto. Administrar o tempo não é sinônimo de usar agenda. Depende do seu gosto e de como essas ferramentas se encaixam na sua vida. Você pode usar exclusivamente o computador, o celular; pode usar uma resma de papel e lápis; pode usar agenda, cadernos, aplicativos, planilha de Excel, guardanapo, Zettelkästen, o que preferir.

Com o apoio de certas técnicas cognitivas, é possível vencer a resistência inicial que nos impede de começar as tarefas e libertar-se da preocupação de ter que lembrar de tudo. O objetivo é simples: delegar para um sistema que criamos a tarefa de saber quais são as nossas pendências, e libertar a nossa mente de ter que fazer esse trabalho.